029 - Padrinho Natinho

Padrinho Natinho morava no final do morro da Rua Seca, em frente à casa da Tia Etelvina e Tio Antonio – casa com uma enorme varanda, tipo de fazenda. Aí iniciava a estrada para o Melo Vianna, um pouco antes da fazenda do Sô Ari de Barros – onde hoje há o trevo e uma concessionária de carros começava a reta até o Melo Vianna – a atual Avenida Magalhães Pinto. 

 

  

         Passava alguns dias das férias na casa de meu padrinho Natinho e de sua senhora, Dona Ritinha. Ficavam eufóricos com minha presença. Eu dormia no quartinho em frente ao deles e todo dia levantava cedo para ir à missa. Dona Ritinha possuía uma voz poderosa – nas missas diárias, e outras cerimônias, nos cânticos e ladainhas ouvia-se sua voz grossa e potente – uma Maria Alcina, se na época TV houvesse – daria uma ótima e potente cantora de ópera.

         A rua era chamada de Rua Seca por ter muito barro e poças d’água; terminava em um enorme morro, para mim criança, e em seu final localizava a casa do padrinho Natinho. Possuía um grande terreno, com inúmeras nascentes d’água. Plantava uma enorme horta e muita banana nanica e outras frutas, sem agrotóxicos – inexistiam! Banana nanica, a caturra, tem esse nome devido ao seu pé ser nanico, pequeno. Dona Ritinha mandava vender, de porta em porta, em balaios de taquara, as frutas e verduras - bananas, e a maioria das frutas, vendidas a dúzia ou pencas. Ainda me lembro dela aguando os canteiros, jogando água com uma cuia. Quando eu passava uns dias por lá, eu comia muita banana – até falava para mamãe a quantidade e, de vez em quando, mamãe se lembrava e fazia hora comigo. Sem filhos – a não ser uma adotada: a Nilda – criada como filha natural e com todo carinho. A Nilda tinha uma deficiência numa das pernas e em um dos braços – dizia-se que era filha do Sô Domingos e que sua mãe falecera quando ela nasceu.

 

Meu padrinho fabricava cangalhas e cangas para juntas de boi. De couro cru trançava, com quatro, seis ou oito pernas, os laços, cabrestos, chicotes, barrigueiras para cavalos – admirava-me ele, com a maior facilidade, cortar o couro em tiras tão compridas, finas e certas para o trançado caprichado de um verdadeiro artesão. 

          Padrinho Natinho tinha a cara fechada, cara de mau, mas um grande coração! E como gostava de mim – e eu dele! Ele trabalhando e eu inspecionando, palpitando e conversando horas com ele.

 

         Meu padrinho de batismo era o Sô Juca Ananias – sempre de terno e muito bem vestido. Morava em Antonio Dias, e quando ia a Fabriciano aparecia sempre para me visitar e me dava Cr$ 5,00 – era um bom dinheiro e eu o depositava no Banco da Lavoura do Sô Alberto Giovanini. Em 1949 coloquei lá meus cinco cruzeiros e em 1958 retirei-o – com juros e sem nenhuma taxa ou imposto. Se fosse hoje, depois que aceitaram bancos multinacionais no Brasil, eu deveria uma fortuna ao banco e poderia até estar sendo processado! Os bancos de hoje são os maiores e piores assaltantes e espalhadores de miséria nos países subdesenvolvidos. No Brasil, mandam e desmandam, açambarcando toda nossa riqueza e tudo que o país arrecada, além de cobrar taxas exorbitantes e juros mais escorchantes ainda - os maiores do mundo! – E tudo legal! Pode ser legal, mas é imoral ou, no mínimo, amoral.

         Tia Zina também era minha madrinha - não sei de que, mas era -, mas minha madrinha de batismo era a Tia Bita – poderia ser melhor?

           E ainda tinha como padrinhos o Sô Ramiro e o José Tibúrcio. Desconheço como mamãe arranjou tantos e tão bons padrinhos para mim!

 

                   Benedito Franco

 

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